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Goetia e os ''Espíritos Infernais''

Goetia ou Ars Goetia que significa basicamente feitiçaria ou a arte da feitiçaria (erroneamente dito que significa ''uivo''), é um grimório que faz parte de um grimório ainda maior chamado Lemegeton. OBSERVAÇÃO: Nesse texto, eu vou fazer várias pausas e explicar muitas coisas que podem ser consideradas simples e até repetitivas para muitos, portanto eu peço a paciência e compreensão de vocês. - Referente a forma de ser chamada, dizem que a pronúncia correta é ''goécia'', apesar de ser escrito goetia. Particularmente isso não faz nenhuma diferença e você pode pronunciar da forma na qual se sentir melhor (serve também como exemplo, o nome dos Daemons, ou Demons), e não fique apegado a possíveis erros ou pronúncias erradas (apesar de que a parte das conjurações e das pronúncias dos nomes ''divinos'' é bom falar da maneira correta), eu mesmo gosto de pronunciar ''goécia'', sinto uma maior leveza e facilidade dessa pronúncia. - Caso você esteja confuso de qual a diferença de livros e grimórios, saiba que a diferença basicamente é que o grimório continua um livro, porém seu conteúdo está ligado a formas e práticas de magia ou alquimia, receitas, conjurações, orações, invocações de todos os tipos. Outra visão, é que grimórios são livros que eram escritos em Latim. Esse grimório, ensina de uma forma relativamente ''simples'', formas de se invocar e evocar 72 ''espíritos infernais''. Ele possui alguns alertas de perigo ao operador, o selo de cada espírito (alguns possuem dois selos), que funcionam como uma ''chave'' ou um ''portal'' para a chamada desses espíritos. A descrição de quais habilidades eles podem (ou não) conceder ao magista. Junto também possui algumas tabelas, tanto do material para confeccionar os selos, assim também como os dias e horas específicos para chama-los, ambos ligados a suas hierarquias (que também são citadas na sua descrição). Por último, um conjunto de materiais considerados ''importantes'' que você deverá ter contigo, tanto para sua proteção, como para firmar sua autoridade, e formas de ''obrigar'' o espírito, etc. Assim também junto, uma série de orações e invocações, que em vários momentos fazem súplica aos nomes de Deus e também a proteção e força de alguns anjos. OBS: - Quando me refiro a algo ''simples'', você perceberá que não é tão simples assim. Porém, fazer invocações de espíritos poderosos e infernais, por muito tempo foi considerado algo extremamente perigoso e difícil de realizar, quase impossível para as pessoas ''comuns''. Por isso, quando me refiro a ''simples'', me refiro no sentido ao comparar com outras situações e outras épocas, na qual se tornaria ainda mais difícil a aquisição do grimório por exemplo, assim como da confecção dos materiais ou de compra-los, assim como de ter um espaço decente para a realização das práticas. - Sobre os perigos citados, inclusive de resultados negativos irreversíveis eu discordo. Posso dizer com uma grande segurança, que você fazendo o básico e tendo o mínimo de respeito, conseguirá trabalhar com a maioria dos espíritos desse grimório sem enfrentar ''grandes problemas''. Deixarei já algumas dicas para que você tenha mais segurança: 1 - Uma dessas dicas, é observar principalmente a descrição do espírito, você poderá observar claramente que em alguma descrições, os espíritos podem ter uma natureza ''gentil'' e mais agradável, como por exemplo, Orobas ou Agares. 2 - Outra dica importante, é você evitar de início os espíritos de alta hierarquia, me refiro especificamente a três hierarquias: ''os Reis, Presidentes e alguns Príncipes''. 3 - É válido também evitar invocar ou evocar espíritos que possuam dois selos, apesar de não ter nenhuma fonte muito sólida sobre, já ouvi alguns relatos, que espíritos que possuem dois selos, tendem a ser mais complicados de se trabalhar. 4 - Recomendo fortemente você evitar também, espíritos que em sua descrição, eles façam algum tipo de ''mal'', ou pareçam ser perigosos de alguma forma, que causem algum tipo de destruição, doenças, mortes e etc. Pois assim como também é ensinado, esses espíritos tem um grande poder de persuasão e podem levar o mago a problemas graves. 5 - Só os chame caso você já tenha tentado resolver o problema no ''mundo físico'' de alguma forma (de preferência de um modo inteligente). Compreenda que eles são espíritos ocupados e muito importantes, portanto, uma forma muito boa e respeitosa (testado por mim inclusive), foi tentar resolver o problema usando meus métodos. Então teoricamente eu só estaria os chamando, porque da forma mais inteligente e capaz possível, não consegui resolver sozinho. - Você poderá observar, que os selos em alguns grimórios mostram algumas diferenças, em sua maioria não é nada gritante e também não se preocupe muito se forem pequenas diferenças. - Quando cito ''podem ou não conceder'', digo isso pelo simples fato de que por mais que eles possuam habilidades, eles podem não ter motivos suficientes, ou não ter motivo algum para lhe entregar essas habilidades. Você perceberá com o tempo, que principalmente os espíritos de alta hierarquia, poderão constantemente questionar do porque vão te trazer determinada coisa, claro que isso também soa muito como um teste para o mago. ''ESPÍRITOS INFERNAIS?'' Aqui entramos em um ponto um pouco convergente de explicar, pois o próprio grimório os trata como anjos caídos, ou seja, eles eram anjos que desempenhavam várias funções ''divinas'', e alguns deles se perderam (alguns citam o desejo pelas mulheres como fator principal para a queda dos anjos, dando a origem aos Nefilins e etc), outros, o ego e sua vaidade foram o motivo de sua queda, os transformando em demônios. É óbvio que o grimório sofreu uma grande influência do cristianismo e da igreja (tanto dos materiais para o ritual, quanto da descrição dos espíritos e até mesmo no ponto de suas conjurações, então influenciado quase por completo), o que não é de se espantar, visto que muitos ocultistas antigos e muitos tradutores dos grimórios, tinham uma forte ligação da igreja ou até faziam parte dela. Nós sabemos muito bem como o cristianismo usou de uma ''manipulação'', fazendo com que várias religiões, principalmente as politeístas, onde haviam diversos deuses e espíritos que foram demonizados. Mas o foco aqui não é sobre isso exatamente, então vamos prosseguir. Aparentemente, seguindo alguma das descrições, encontramos alguns espíritos que estão ao lado de Lúcifer e que empenham algum tipo de função muito importante, como por exemplo: Paimon, Astaroth, Asmoday, Bael, Belial e etc. OBS: - Vale ressaltar que isso também gera uma certa confusão, visto que no Ars Goetia, mal se toca no nome de Lúcifer, exceto na descrição de dois espíritos. Outro fator que pesa bastante em suas origens, está também em suas conjurações do método salomônico. Nesse sistema, você teoricamente vai possuir uma autoridade praticamente divina (depois de seguir vários processos e procedimentos que o grimório não cita muito bem), você representará a autoridade quase divina, fazendo assim, com que qualquer espírito se manifeste, e esteja disposto a conceder qualquer coisa que o operador queira. O ponto ''assustador'', é que caso o espírito não se manifeste ou não esteja disposto a te ajudar, mostrando sinais de rebeldia, você poderá ameaçar e intimida-lo com os nomes de Deus e os nomes de anjos, além de chamar os seus superiores para traze-lo a força, ameaçando prendê-los, torturá-los e até queimando seus selos, uma forma considerada brusca para expulsar o espírito ou intimida-lo a se manifestar. OBS: - Eu particularmente vejo como errado enxergar todos os espíritos do grimóro como demônios que estão no inferno. Nas minhas práticas, algumas vezes tive a oportunidade de ter uma conversa ou uma comunicação com vários deles, e em nenhum momento eles pareceram estar no inferno ou em terrível sofrimento. Para outros também foi perguntado sobre Lúcifer, mas nesse caso, vou omitir quais respostas eu tive, para não gerar um desconforto para aqueles que o veem como uma entidade ou um ser. Um general que comanda as forças do inferno e etc. - Por mais que a descrição dos espíritos e conjurações possuam alguns erros e claramente mostram alguns sinais de alteração, também não é válido desconsiderar todo o conteúdo, pois ele ainda possui um valor que considero muito importante. - Também devemos nos lembrar, que a goetia trás indícios quase incontestáveis, de que vem de fontes da magia grega e também de certas cerimonias egípcias, que envolvia ao chamado de espíritos de mortos, por meio de oferendas, súplicas, gestos e rituais muito parecidos com o que estão presentes na goetia. - Quando os cito como espíritos infernais, não digo em minha própria interpretação, que eles são espíritos que de fato estão no inferno. Mas em prática, que são espíritos muito antigos e que não viveram em sociedade, não tem uma definição muito correta sobre bem e mal. Por esse motivo, você pode pedir a um espírito causar uma grande desgraça a alguém ou prejudicar de alguma forma (o que não recomendo). Muito provavelmente eles farão sem ''peso na consciência'' e não farão nenhum tipo de julgamento sobre você, dizendo que você é indigno ou uma má pessoa. Mas, isso ainda é algo muito debatido, muitos outros magos podem dizer que eles sabem sim que estão fazendo o mal e que gostam disso, eu particularmente respeito, mas não concordo. MAGIA GOETIA É válido lembrar, que esse tipo de magia, nunca foi bem aceita, inclusive por grandes ocultistas muito ''renomados'', mas também muito influenciados pela era cristã. Esse tipo de ''magia negra'', que envolvia a invocação e evocação de espíritos do submundo, muitas vezes dizendo que eram espíritos de mortos ou em situações piores, demônios que tinham a única intenção de destruir a humanidade foi duramente criticada (por motivos óbvios). Diziam que na verdade, isso era apenas ilusão, e que as visões e manifestações que aconteciam por meio de espelhos e incensos eram apenas ilusões demoníacas, usadas para impressionar tolos. Um fator que também prejudicou bastante a prática dessa magia, além de claramente o fator cristão, foi o surgimento de pessoas, que diziam ter autoridade sobre o tema, que prometiam trazer riquezas e que eram capazes de chamar espíritos trevosos, espíritos de mortos, fazendo eles servir a vontade de qualquer um. OBS: - Vale ressaltar, que a magia goetia salomônica se torna um pouco mais aceitável em suas práticas, visto que você suplica a ajuda de Deus e dos Anjos para conseguir subjugar Demônios. No fundo, isso ainda continuou sendo uma contradição e ainda uma heresia, mas ainda sim, um pouco mais aceitável. - Os charlatões, que prometiam coisas com muita facilidade, ajudaram a manchar a magia goetia e também os magos, que já não eram muito bem vistos normalmente. Não preciso citar que é muito errado e tendencioso dizer que alguém vai conseguir grandes feitos ou realizações pela magia goetia, visto que a maioria dizia isso sem ter a menor certeza, sem ter consultado os oráculos e sem ter sequer conhecido boa parte dessas pessoas. - No geral, boa parte dos magos, diz que a magia goetia envolve apenas a evocação e não a invocação. Na interpretação praticamente de muitos, invocação é quando você trás algo para dentro de si e evocação é quando você externaliza algo para fora, quando você faz algo que está ''dentro de ti'', se manifestar para fora. O que inclusive, trouxe algumas interpretações de algumas pessoas da ''era moderna'', dizendo que esses espíritos são apenas parte da sua psique (o que é uma tolice e de um ego exacerbado sem tamanho). Minha concepção é diferente, eu vejo a invocação, como uma ''ligação'' sua com o espírito e não necessariamente uma ''incorporação''. Uma forma grotesca de ver pela minha visão, é literalmente como se você estivesse pegando seu celular e fazendo uma ligação para conversar com o espírito. E a evocação, também sobre uma interpretação muito pessoal, é quando você não só liga, mas convida o espírito a se manifestar no ambiente que você está presente, então você o convida para estar no mesmo quarto que você, mais especificamente dentro do triângulo de conjuração. ADAPTAÇÕES DA MAGIA GOETIA Pelo texto que escrevi e também pela sua própria análise ao ler o Ars Goetia, você poderá perceber sem muita dificuldade, que o grimório em si já é muito adaptado. Talvez por sorte ou destino, uma adaptação tão ''grotesca'' que ainda sim consegue manter um bom sistema, com boa margem de resultados. Toda vez, quando é perguntado em alguma conversa, grupo ou discussão sobre o que eu acho sobre essas outras adaptações do sistema, minha resposta continua sendo sempre a mesma: - Um ritual de magia, só deve ser adaptado, depois que o mago já é muito experiente, pois ele saberá e terá uma grande confiança de retirar algum material ou adaptar alguma coisa, sabendo exatamente qual falta aquilo fará, tanto no plano físico, como no plano espiritual, ou que benefício ele terá acrescentando alguma coisa na operação. Somente o mago, depois de trabalhar da melhor maneira possível, o seu sistema ''original'' (goetia salomônica), ele terá autonomia de começar a fazer suas próprias adaptações. Eu não recomendo, que ninguém comece praticando a magia goetia, já fazendo grandes adaptações, assim como eu citei anteriormente, o sistema por si só, já é muito adaptado, continuar fazendo adaptações, pode colocar em risco todos os resultados e as possíveis manifestações, além de não garantir também a mesma segurança. OBS: - Claro, que aqueles que não se sentem a vontade ou muito familiarizado a esse sistema quase religioso, que não sente segurança e conforto por qualquer motivo que seja, você pode usar um sistema diferente, mas mesmo assim, esteja ciente dos ''riscos''. - Aqueles que usam sistemas de magia muito adaptados, provavelmente terão apenas uma fração de resultados, e pequenas sensações, que nem se comparam a um ritual de magia cerimonial bem feito, na qual você dedica boa parte do seu tempo e da sua vida para confeccionar os materiais, jejuar, meditar, buscar uma elevação espiritual e etc. SOBRE A DESCRIÇÃO DOS ESPÍRITOS Um dos pontos que mais me trazem incômodo, é a descrição muito pobre e realmente estranha desses espíritos, muitas vezes trazendo uma visão tendenciosa e irreal, que deu muitos motivos, para que muitos magos céticos considerassem o sistema todo inválido (o que pra mim é um erro). Durante um período de certo ''modismo'', surgiu grimórios com descrição de espíritos um tanto meticulosos para não dizer outra coisa. Espíritos que podem transportar o mago a qualquer lugar do mundo instantaneamente. Outros que vão deixar o mago invisível, transformar determinados materiais em ouro e até causar terremotos, esses são alguns dos exemplos quase absurdos e muito fantasiosos de alguns espíritos. Diante dessa situação, existem duas coisas que você pode fazer: 1 - A forma que encontrei foi adaptar a descrição e não levar em seu sentido literal. Um exemplo disso foi a ''invisibilidade''. Nesse sentido, eu procurei entender que o espírito pode fazer com que o mago por exemplo, não seja visto por inimigos, que ele não seja alvo de ataques mágicos por um determinado tempo. Caso um grupo seja acusado de alguma coisa, as pessoas esqueçam que ele estivesse nesse grupo, como se estivesse invisível. No caso de transportar o mago de um lugar a outro do mundo, eu procurei adaptar e interpretar que é um espírito que pode auxiliar na projeção astral e ter mais ''força'' para ir a qualquer lugar do mundo. Porém, tem algumas descrições que realmente não tem como adaptar, mas no geral, a maioria das descrições pode-se ter uma interpretação mais fantasiosa e bem pessoal. OBS: - Vale ressaltar uma coisa importante, o grimório em si não indica fazer isso e muito provavelmente a intenção não era que os magos e bruxas se tornassem mais idealistas. Provavelmente, o sentido dessas descrições sejam literais, mas é claro que não precisamos confirmar se isso é realmente fato, pois se fosse, o mundo não seria o que estamos vivendo agora, literalmente falando. 2 - Uma outra coisa bem válida a se fazer, é basicamente ignorar essas descrições e considera-las no momento impraticáveis, podendo até mesmo ignorar o espírito que trás descrições fora da nossa realidade. OBS: - O que não vejo como certo, é a pessoa deixar o sistema todo por causa disso. O que também é um direito do próprio possível operador, visto que o sistema, nem a magia, nem a espiritualidade não tem a intenção de provar nada à ninguém. Concluindo, eu não vejo a magia goetia de fato como algo perigoso ou que seus rituais sejam inalcançáveis para a maioria, visto que em várias situações do nosso passado, sem o contato com a tecnologia, sem o contato de pessoas que pudessem ajudar na fabricação dos materiais e etc, seria muito mais difícil. Do mesmo modo, continuo dizendo e afirmando que fazendo o básico você poderá trabalhar com a maioria dos espíritos, fazendo a sua parte e tendo respeito com esses espíritos, você sendo um mago ou bruxa sensatos, muito raramente terão que banir um espírito ou sequer força-los a fazer alguma coisa. Esse texto teve inspiração principalmente do livro: Goetia, História e Prática de Humberto Maggi - John

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